segunda-feira, 16 de novembro de 2015



E há uma porção de coisas que queria dizer-te
Um tanto de palavras, um bocado de dores.
Queria atirar-te minhas palavras mais duras.
Gritar dizer, que não costumas ouvir.
Atingir-te com o frio de minhas palavras.
Empurrar-te goela a baixo todos os sentimentos verbalizados.
Te fazer entender, te fazer saber, de todas as minhas verdades.
Sufocar-te, com as palavras que tomam minha mente.
Eu queria...queria mas assim como o amor, 
não posso obrigar-te a sentir a dor.

S.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015



Foi quando ela me disse "Eu não te odeio, rapaz
Eu apenas quero salvar você, 
enquanto ainda resta alguma coisa para salvar"
Foi quando eu disse " Eu te amo, garota
Mas não sou a resposta para as perguntas que você ainda tem."

Rise Against

sábado, 7 de novembro de 2015



... E eu só podia observar, por mais que me importasse por mais que eu quisesse, não havia nada que eu pudesse fazer, ele era assim, não aceitaria que ninguém se lança-se em meio a sua confusão pra resgata-lo, era doloroso, ver a forma com que se consumia, o quanto tentava repetir a si mesmo que tudo ficaria bem, que tudo estava bem. Mas os seus olhos nunca negariam, nunca esconderiam, e eles gritavam, eles precisavam de alguém, eles precisavam de ajuda, mas eu sabia que qualquer palavra, qualquer toque, seriam o suficiente pra destruí-lo de vez.
Mesmo que não completamente, eu sabia como sua mente era, e como era a confusão ali, e eu sabia que ele tinha que encontrar suas próprias respostas, ele tinha que lembrar, porque havia uma vida antes, e ele só não recordava como ela era...

S.


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Eu odeio'



Recentemente descobri que eu odeio você.
E recentemente descobri que odeio o fato, de ódio se confundir tanto com o amor.
Odeio a forma como você me desarma, me descobre, me desvenda, odeio esse poder que tem em mim.
Odeio quando se afasta, quando some, quando não fala, e minha própria consciência grita pra mim, com essa sua voz rouca, que me é tão familiar.
Odeio quando chora, odeio não poder ajudar, e odeio por já ter sido seu motivo, acho que odeio não ser mais o motivo também.
Odeio quando não me procura, quando esconde, quando se esconde. Odeio ter que esperar o próximo porre pra que possamos ser eu e você de verdade, odeio essas armaduras que insistimos em usar.
Mas, eu odeio, eu odeio que tenha ficado tanto de mim em você, que hoje seja tão eu, quando o que eu mais precisava era de você.

S.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015



...E ela, já não era mais a sua pequena, e nem ele o menino dela.
Mas naquele momento entre o agora, e o para sempre, de uma forma estranha, eles ainda se pertenciam...

S.

sábado, 3 de outubro de 2015



...E ele era bagunça, era confusão, era o acumulo de tudo que o trouxe até aqui, era dor, era tristeza, medo, alegria e caos, e ele era vazio.
E assim, bem assim sem esperanças, sem sonhos, em meio a fumaça dos cigarros que fumou, com o cheiro do álcool que bebia, ele estava mais uma vez, se perguntando, porque tudo estava assim, ele sabia que tudo seria assim, que a dor, a raiva, a tristeza e o medo, não iriam simplesmente desaparecer, mas no fundo ele suplicava, que Outubro chegasse e tudo se fosse como a neblina da manhã.
Mais uma noite chegava ao fim, e o amanhecer não seria nada, se não somente mais um dia, e ele com os olhos vazios, via a chuva que caia lá fora, e foi assim, na hora mais calma do dia, quando todos já haviam se posto a dormir, que ele se despiu de sua armadura, se desfez das armas, rompeu as grades, e se libertou.
E quando a chuva gelada tocou seu rosto, ele chorou....


S.


Espero pela sua ligação, estou doente,
Ligue estou irritado
Ligue estou desesperado pela sua voz
Estou ouvindo a música que costumávamos cantar
No carro, você se lembra?
Borboletas, começo de verão....

E eu estou tão cansado de estar tão sozinho
E esse momento solitário só me faz querer voltar pra casa
Eu sei tudo que você queria não é tudo que você tem.

Secondhand Serenade 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015



Minha flor não me machuques
Minha dor não me abuses assim
Não tire magoas
Não tire magoas de mim
Meu amor não me invadas 
Com o teu olhar
Não me deixes aqui a gritar
No meio do caminho sozinho.

Meu amor não mais deixes escapar
Nenhum desejo no teu olhar
De pecados proibidos esquecidos
Respirando magoas de uma outra dor
Do nosso caso imoral
Desse amor, desse amor marginal
Eu vou...

Johnny Hooker

sexta-feira, 25 de setembro de 2015




Dias de agonia, distancia judia 
A mente cria na melancolia mil filosofias, me alivia 
Mesmo que por pouco tempo, a dor beneficia
Hoje o sofrimento virou poesia

3030


...E enquanto todos dormem, mais uma vez sozinho ele espera o nascer do sol, observando toda a cidade, esperando que com o novo dia possa encontrar o lugar a qual pertence, esperando que o torpor de sua alma desapareça junto com a escuridão da noite, esperando que o novo dia seja mesmo novo.
Perdido em pensamentos como as pontas de cigarro perdidas ao seu redor, sentado com uma garrafa nas mãos procura se encontrar, qualquer rastro, qualquer traço, do que foi um dia, o ponto na trilha em que se perdeu.
Os olhos mareados mostram o quanto se tornou difícil passar pelos dias, como é doloroso ser puxado para todos os lados no seu turbilhão de pensamentos, na sua tempestade de emoções, sentado ali, bebendo com seus medos, e suas aflições ele só queria em fim poder explodir, deixar toda a dor, todo o medo, toda a tristeza, e toda a raiva saírem, explodir em lágrimas, explodir em fúria, o que fosse só queria se libertar de tudo que o prendia. Queria acabar com aquela garrafa e criar forças, criar coragem, e poder em fim falar tudo que sua mente não parava de gritar, mas...Ele sabia que ao verbalizar sentimentos, tudo se torna mais forte, tudo se torna real, e ele sabia que ele não suportaria a força de suas próprias palavras.
A noite logo chegaria ao fim, a garrafa chegaria ao fim, seus cigarros, tudo acabaria, mas nesse momento, ele só queria que Setembro chegasse ao fim...

S.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015





...E em meio ao tintilar de copos e risadas, ele permanecia em silêncio, em meio a fumaça com uma garrafa em sua frente, se perguntando porque tudo lhe parecia tão fora de contexto, porque ele não parecia se enquadrar em meio a tantos risos e alegria.
O ver bebendo sozinho nunca fora um bom sinal, mas acho que nessa ocasião nem ele sabia o que acontecia, só via o reflexo de seu interior naquela garrafa vazia, e no cigarro que se consumia sozinho entre seus dedos.
Quando a segunda garrafa veio, acendeu outro cigarro, encheu o seu copo, um gole amargo de torpor, ele tinha que se perder antes de se encontrar mais uma vez, e assim o faria, deixaria que sua mente se perdesse e fosse aonde ele não queria ir.
Quanto mais bebia, mais cinza e vazio seu olhar me parecia, e mais intensa se tornava sua dor, enfim ele havia entendido o que acontecia com ele, Setembro em fim havia chegado outra vez, trazendo tudo a superfície, novamente, o começo do seu fim veio assombra-lo mais uma vez.
O seu copo e um cigarro acesso permaneceram sobre o balcão, quando ele saiu com os olhos mareados e uma garrafa como sua única companhia...

S.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015



Maktub,

Particípio passado do verbo Kitab,
É a expressão característica do fatalismo muçulmano
Maktub significa "estava escrito" ou melhor
"tinha que acontecer".
Essa expressiva palavra dita nos momentos de dor ou 
angústia.
Não é um brado de revolta contra o destino.
Mas sim, a reafirmação do espírito plenamente resignado
diante dos desígnios da vida. 

Oriente

quinta-feira, 13 de agosto de 2015



"...Rachaduras em todos nós. Como se cada um tivesse começado como um navio inteiramente à prova d'água. Mas as coisas vão acontecendo...as pessoas se vão, ou deixam de nos amar, ou não nos entendem, ou nós não as entendemos... e nós perdemos, erramos, magoamos uns aos outros. E o navio começa a rachar em determinados lugares. E então, quando o navio racha, o final é inevitável.
Quando começa a chover dentro do Osprey, ele nunca vai voltar a ser o que era. Mas ainda há um tempo entre o momento em que as rachaduras começam a se abrir e o momento em que nós nos rompemos por completo. E é nesse intervalo que conseguimos enxergar uns aos outros, porque vemos além de nós mesmos, através das nossas rachaduras, e vemos dentro dos outros através das rachaduras deles. Quando foi que nos olhamos cara a cara? Não até que você tivesse visto através de minhas rachaduras, e eu, das suas. Antes disso, estávamos apenas observando a ideia que fazíamos um do outro, tipo olhando para as sua persiana sem nunca enxergar o quarto lá dentro. Mas uma vez que o navio se racha, a luz consegue entrar. E a luz consegue sair."

Cidades de Papel

segunda-feira, 10 de agosto de 2015



"Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio, pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que for isso
Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
Peixe na boca de crocodilo
Braço na Vênus de Milo acenando tchau

Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro: esse hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo (...)

(...) Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver..."

Zeca Baleiro

sábado, 8 de agosto de 2015



...E então ontem a noite o vi mais uma vez, em meio a garrafas e cigarros, com pessoas a sua volta, uma daquelas noites em que o riso e fácil e a cerveja gelada.
Seria simples pra qualquer pessoa, gostar dele assim, nessas noites leves, nesses momentos, nessas noites e quando é mais simples se perder em toda a imensidão que ele é. Sempre gostei de ver ele assim, mesmo que de longe, aquele meio sorriso sempre me conquistou, mas ontem, algo estava diferente, era além do normal.
Sempre soube o que se passa na vida dele, mesmo que sem querer saber, eu sempre soube e sei agora também. Pra qualquer um, seria fácil achar que o álcool que fazia seu lábios se curvarem e o sorriso verdadeiro, mas pra mim não, soube disso, no momento em que ele passou por mim, ele me cumprimentou e sorriu pra mim, e vi seus olhos verdes com aquele brilho travesso de outrora, e seus olhos sorriam pra mim.
Nesses poucos segundos, soube que era "ele", ele estava de volta, o mesmo garoto de antigamente, carregado de sonhos, planos e idéias mirabolantes, era ele tinha certeza que era ele, meu menino sonhador havia retornado....


S.


sábado, 25 de julho de 2015



...Ei?! É difícil né? Ele é difícil. Todos aqueles silêncios, aquele medo, ou quando ele começa a se entristecer e parece que nada o deixa feliz, quando ele se fecha e nada pode o trazer de volta, é, eu sei, o quando a gente se sente pequeno e inútil, quando isso acontece, quando tudo que a gente quer é ver aquele verde brilhar intenso nos olhos dele mais uma vez, mas aquele vazio, aquele cinza parece nunca sair.
 Você chega a ponto de se odiar e a odiar ele também, por não conseguir fazer nada a respeito, e por ele fazer você se sentir como se o estivesse perdendo a cada dia, mas você não consegue não gostar, e ele, ele é assim mesmo, essa inconstância, essa confusão, que te envolve que te prende e te faz não querer ir a nenhum lugar que não ao encontro dele.
 Eu queria poder te ensinar, a lidar com ele sabe?! A ouvir os silêncios, ler o olhar, porque é assim que ele fala mais do que de qualquer outra forma, te ensinar a mante-lo em pé quando ele começa a cair, sustentar os seus pedaços, quando as rachaduras no coração dele começam a se abrir, te ensinar a preencher, mesmo que superficialmente os vazios.
 Queria te dizer como trazer de volta a vida na voz, aquele brilho em meio ao verde do olhar, aquele sorriso com covinhas nos cantos da boca, o jeito de menino sonhador e travesso, na forma de ser, mas, eu não posso, essas são coisas que eu não consigo ensinar.
 Mas, ei, não se preocupe, ele vai te mostrar como fazer isso, ele sempre mostra de algum jeito, como mostrou pra mim, então não se preocupa, porque ele vai continuar aqui, e você vai aprender a lidar com ele, mesmo que seja difícil as vezes, não desiste, que o que tem lá na frente vale a pena, só tenha paciência, porque no fundo ele é só um menino que tem medo do mundo lá fora, por isso ele tem seu próprio mundo e ele só precisa ser entendido, pra dividir o mundo dele com você...

S.




Me perguntaram o que você tem, o que as pessoas vêem em você.
Eu quis responder 'ele ainda tem a mim'. 
Mas não era a isso que a pergunta se referia, era ao como você consegue conquistar tantas garotas,
como está sempre com alguém em seus braços.
Quis responder que era só porque você precisava, para ocultar esse seu lado vazio.
Mas ao invés disso eu dei a resposta que todos esperavam: 
ele é gentil, inteligente, boa companhia e faz bem pra quem está com ele.
Não, não precisei dizer mais nada.
Mas depois disso seu rosto ficou em mim o dia todo.

l.p.t

quarta-feira, 22 de julho de 2015


Resta achar
Onde mora a perfeição
Entre o amor e a Razão
Assim serei feliz

Scalene

terça-feira, 14 de julho de 2015

quinta-feira, 25 de junho de 2015



...Sempre via aqueles olhos em meio a fumaça dos cigarros, enebriados pelo álcool, e eles sempre me mostraram tanto, falaram tanto, sempre me perdia naquele brilho, na profundidade daquele verde, na curiosidade de tudo que havia por trás deles.
Sempre a forma com que seus olhos sorriam, em meio a sua risada, e a curva em seus lábios que se formava toda vez, queria saber uma forma de explicar, uma forma de expressar, tudo que aqueles olhos podem transmitir, queria poder ensinar outros a lê-los, pra que ele não se sentisse mais tão só, pra que pudessem entender quando a alegria dentro dele transborda, quando se sente só, triste, ou quando seu mundo desmorona, quando seus olhos falam tudo que ele não diz.
Seus olhos sempre foram um reflexo de seu interior, sempre mostraram tudo que ele esconde de si mesmo, e tudo que ele tenta esquecer, seus olhos mudam a cada momento, seus olhos, falam, gritam, e pedem. Aqueles olhos verdes, as vezes carregados de vida, mas as vezes de dor...

S.

domingo, 21 de junho de 2015



...Eu já não o via com muita frequência, não nos falávamos como antes, ele já não me contava tudo sobre seus dias, mas eu o conhecia, conhecia muito bem, melhor que ele mesmo as vezes. Ao menos achava isso, ele sempre se mantinha afastado de tudo, tinha seu próprio mundo, e se trancava lá, evitava a proximidade, e não se mostrava por completo pra ninguém.
Mas as coisas haviam mudado, e eu não percebi, não soube e não senti isso. A música era alta, quando o vi surgir em meio a multidão, ele parecia extremamente bem, e não trazia consigo o cigarro e a garrafa habitual, não entendi de inicio o motivo dessa mudança, então ele passou por mim sem que nossos olhares se cruzassem, e trazia pela mão uma garota, e suas mãos se enrolavam como se nunca mais quisessem se afastar, confesso que senti um pouco de inveja dela, ela tinha nas mãos a joia mais preciosa que já encontrei, e pelo sorriso dela vi que ela sabia disso, e ela não o deixaria partir. 
Pararam próximos de onde eu estava, vi quando ele a abraçou, tocou seu rosto, e a beijou, e então pude sentir que ele trocaria tudo no seu mundo, pelo mundo dela, que não queria nada além daquele beijo, daquele momento, enquanto a música estava alta ele sussurrou algo para ela, e ela sorriu, não podia ver os olhos dele, mas sabia que eles sorriam pra ela também...

S. 

sábado, 13 de junho de 2015



"Say youe peace
For I'll be on my way
One last look, nothing left to say"

Black Label Society

sábado, 23 de maio de 2015



Eu tenho medo do seu sorriso
do seu abraço,
do seu momento inconsequente de palavras.
Mas fique perto, chegue mais perto,
puxe uma cadeira e me puxe pra dançar.
Não se distraia com meu olhar putrefado. 
Não se perca com meu tempo, com meu sorriso,
com meu abraço, com o barulho mudo de palavras.
Não se perca de mim.
Não se perca de vista, não me deixe sentado.
Não me deixe só, só.
Não destrua meu músculo com suas mãos,
Não me destrua com seu tato
Não me destrua, confie em mim.
Mesmo que seja falho, fraco, finito.
Não tenha medo do meu sorriso
Como eu tenho medo do seu.

Vitoria


...Era tarde da noite quando nos cruzamos em uma rua qualquer, eu já nem recordava a última vez que o tinha visto, ele parecia o mesmo, um cigarro e uma garrafa, ele sempre foi tão diferente de todo o resto, a forma com que se destacava sem querer em meio as outras pessoas, sempre um pouco deslocado, com aquela dor recolhida no olhar, ele era aquelas pessoas que você nunca se imagina convivendo, até que o conhece e não quer que ele saia mais da sua vida. Ele realmente parecia o mesmo, mas no momento em que seus olhos cruzaram com os meus, percebi que as coisas haviam mudado, ele ainda era o mesmo, o garoto sonhador, e auto-destrutivo que conheci, mas algo havia mudado nele, não havia mais aquela aura de auto-piedade em torno dele, mas ela parecia mais frio do que sempre fora, algo tinha mudado, só percebi o que era, quando me cumprimentou, sem parar, e simplesmente seguir. 
Quando você o conhece, não quer que ele saia mais da sua vida, eu quis, pedi por isso, e ele atendeu meu pedido...

S.

quarta-feira, 25 de março de 2015


'You're so nice' he said to then a while go
Back in the time when they were good to go
'Weird nights' rephrasing what he said before
Twisting words, summoning everyone

"You knew I couldn't hold my words

Even though I wanted to
And I knew I supposed to do
But chose to blame it all on you"

She says, "I gotta tell you my story, man

The right story, man
(Because yours is a lie)
Wait, Shut, I gotta tell you my story, man
The whole story, man

Have you lost your mind?

We know you were a part of it
I should have known that you would screw it all again
I'll tell you what's so funny
I thought that I could trust in you....


Far From Alaska

sexta-feira, 13 de março de 2015



Tudo tem o seu lugar
Tudo tem a sua hora
E eu cansei de esperar
A minha hora é agora...

Com os olhos na estrada
Eu sigo em frente e não desvio
Só eu e meu coração vazio...

...Como posso ir em frente
Como posso ser tão frio
Só eu e meu coração vazio....

...São falhas da razão
São os erros do perdão
Que tenho o medo de perder
Enquanto não me encontrar....

Capital Inicial

quarta-feira, 11 de março de 2015

More Than Us II - Alexander


     E depois de tantos anos eu estava de volta, era perturbadoramente nostálgico estar aqui mais uma vez, tudo parecia tão igual, as mesmas ruas, os mesmo cheiros, meus pés se lembravam de todos os caminho e meu nariz de todos os aromas.
     A única diferença era eu, o tempo me mudara, endurecera minhas feições, roubara alguns dos trejeitos de garoto que eu tinha anos atrás, eu havia amadurecido no fim das contas, mas aqui, ainda me sentia aquele garoto.

     Estava tão perdido em meus devaneios que quase me deixei passar por ela sem reparar, alguns passos a frente, foi como se algo mais forte que eu me fizesse parar e virar, e dar com aqueles olhos tão familiares a fitarem os meus.

     Por alguns segundos todas as palavras de minha mente simplesmente se evaporaram.
      - É você? - Foi tudo o que consegui proferir.
     - Depende de quem você ache que eu seja - foi sua resposta.
    
 Um meio sorriso me veio aos lábios, realmente era ela, ao menos sua resposta foi exatamente como eu esperava, me aproximei, e sem saber ao certo como agir lhe ofereci minha mão, posso jurar te-la visto exitar, depois com um sorriso ela o apertou e me olhou nos olhos.

     - Então...o que anda fazendo? - perguntei ainda buscando as palavras
     - Não sei, o que quer saber?
     - Tudo - Respondi sorrindo, e um tanto envergonhado
     - Tudo é muito - respondeu-me parecendo um pouco desconfortável. 


 

     Então o silêncio tomou conta de mim,  não sabia ao certo o que falar, então ela se adiantou.

     - E você? O que fez depois? Além de namorar a garota da cafeteria?

     - Me fechei por um tempo, por tudo em ordem. Então, depois eu parti, vi que não era meu lugar naquele momento. Mantive contato com os garotos, mas depois de um tempo não nos falamos mais, foi bom até. Foi incrível quando nos encontramos de novo, os mesmos babacas de sempre - rio ao lembrar disso, e por finalmente contar isso a alguém que me conhece de verdade - Ta, mas e você por onde andou?

     - No mesmo lugar. Não sai de lá. Na verdade não sai mesmo, não saia de casa, ou qualquer outra coisa. Coloquei as coisas em ordem e depois tentei seguir em frente. Recebia noticias suas às vezes. O que não ajudava muito no fim das contas, mas foi melhor assim.

     - E depois?
     - Bom, eu segui, de um jeito torto, mas segui.
     - Andar reto nunca foi nosso forte, não é? - Permito me rir como a tempos atrás
     - Acho que não.

     - E quando a garota? - Aponto para a garotinha que a acompanhava, e agora estava um pouco afastada de nós.

    - Produção independente - ela sorri
    - Como assim? - pergunto sem entender, - Pensei que quisesse casar e tudo mais
    - Queria. Mas pulei certas etapas, sem homens a vida é mais fácil. Então dei um jeito de engravidar, e bem, ela nasceu. - ela sorri, orgulhosa de si mesma - E você?
     - Bom, quando saí daqui, primeiro fui pro Sul, depois pro Norte, mas era quente demais, ai parei no meio, - digo rindo - aprendi a tatuar quando fiquei em BH, abri um estúdio em Curitiba e me formei em história lá.
     - Casou?
     - Sem casamentos. Histórias, em todos os cantos, feridas e todo o mais. Você me conhece.
     - Filhos?
     - Só alguns sustos, mas nenhum ainda.
Nesse momento, rimos juntos, como se tantos anos não tivessem se passado.



     - Fazendo que por aqui? - ela me pergunta.
     - Vim para dar aula, e vou trazer meu estúdio para cá logo, como só dou aula a noite, vou continuar com ele durante o dia. E você, não saiu daqui?
     - Não. To lecionando aqui. Sempre disse que queria criar meus filhos aqui. Saí por um tempo, estudei fora e morei 3 anos em Porto Alegre. Depois voltei.
     - Passei um tempo em Porto, meus dias de artista de rua. Ficava sempre pela cidade baixa, vendendo desenhos, por causa de lá que surgiu a oportunidade de ir para BH.

    - Fiquei sabendo - disse-me rindo
    - Como assim? - pergunto sem acreditar.
    - Eu disse que recebia noticias suas as vezes
    - Mas, e o que sua mãe achou da produção independente?
    - Não gostou óbvio. Ela não mudou no final das contas. Mas não tinha muito o que dizer. Ela se acostumou com a ideia.
    - Mãe - Chamou a garota, que reparo ter um colar com o nome Valentina - Posso pegar outro?
    - Não, já estamos indo.
    - Já? - pergunto.
    - Sim, viemos tomar um sorvete, ela já acabou. Agora vamos embora - ela me responde com um leve sorriso.

    Quando vamos pagar o sorvete me mantenho um pouco afastado, pensando um pouco sobre o passado.

     - Aonde vão agora? pergunto.
     - Para casa - ela me responde enquanto pega o troco

     Enquanto ela se dirige a Valentina, coloco as mãos nos bolsos e os reviro em busca do meu maço de cigarros e meu isqueiro.
     Eu as acompanho até a porta de casa, um caminho familiar, e em silêncio.

     - Nos vemos por ai? pergunto ao me despedir.
    - Acho que sim - disse ela já ao pé da porta.

     Quando ela entra, tiro um cigarro do maço, o acendo e observo a fumaça subir em direção as luzes que escapam por entre as copas das árvores, dou um gole amargo do cantil que mantinha em meu bolso, e sigo meu caminho, sem saber ao certo aonde queria ou deveria ir.



     Deixando-a para trás, mais uma vez parti, não como fora uma vez, mas parti, não sabia se nos encontraríamos em alguma esquina, até que o acaso, cruzou nossos caminhos mais uma vez.
Sempre achei um tanto clichê esses encontros em lugares comuns, mas foi assim que aconteceu, na fila do mercado, eu comprando cigarros e ela um vinho.

    - Louise - A cumprimentei de uma forma assustadoramente cordial
   
    Ela sorriu para mim, um tanto quanto surpresa, por me ver ou pelo tom que usei, não sei dizer.
    Paguei meus cigarros e a esperei junto a porta, quando passou por mim segui ao seu lado em silêncio, como fazia tempos atrás.

     - Aonde está indo? - me perguntou por fim.
     - Por enquanto estou andando com você, depois decido - respondi deixando as palavras soltas no ar.
     Era como, a anos atrás, ela me fazia voltar a ser aquele garoto, que eu deixara de ser a tanto tempo. Ela me olhava, e quando seus olhos encontravam os meus, eu era arrastado de volta a aquele mundo que tínhamos, era bombardeado com lembranças, imagens, e flashes de um passado que nunca, fora esquecido.
     Eramos apenas duas crianças, que acreditavam que podiam ir contra tudo, que em uma noite tiveram suas vidas ligadas, e inevitavelmente mudadas, pra sempre.

    - Pensativa demais para o meu gosto - disse pegando um cigarro, pra esconder meus próprios pensamentos.
    - Impressão sua. - me respondeu com a voz um tanto quando distante.
    - Pensando em que?
    - Em quando me deixou! - sua resposta me atingiu como um tapa, e me fez encolher.
    - Louise...
    - Sem pedidos de desculpas. Não me faça lembrar de tudo que aconteceu. Não me faça sofrer duas vezes pelo mesmo motivo. Não me faça reviver. Não.

     Havia tantas coisas que queria dizer, tantas coisas que queria contar, dizer o quão difícil foi me mostrar forte, o quanto guardei, mas não podia, não devia. Uma tragada lenta, pra acalmar os pensamentos, me voltava pra dentro de mim a cada instante, como sempre acontecia quando não sabia como agir.

     - Ainda dorme como criança? - perguntei a primeira coisa que me veio a mente, péssima escolha.
     - Não. Mas dormi com várias pra tentar te esquecer.

     Mais um tapa, não queria me defender, não precisava, eu tinha que sentir isso, eu merecia isso, mas, machucava. Acabei meu cigarro em silêncio, andando lentamente.

    - Desculpa - ela falou sem me olhar, como se dissesse para si mesma.

     Assenti em silêncio.

     - Você está com tempo? - perguntei com o olhar distante.
     - Acho que sim.
     - Me acompanha a um lugar? - fez que sim, mordendo os lábios, incerta sobre isso.


     
     Andei em silêncio, com ela a me seguir. Não proferimos uma palavra se quer durante o trajeto, mas isso não era necessário, nosso silêncio sempre dissera mais do que nós.
     Era estranho eu lembrar com tanta naturalidade desse caminho, tantos anos se passaram desde que estive aqui pela última vez. Ao chegar foi como se, eu tivesse feito esse mesmo caminho todos os dias. Vi ela parar a dois passos atrás de mim em frente ao portão, seu rosto era uma mescla de incerteza, medo e tensão, ou era somente meu reflexo em seus olhos.
     Eu não podia fazer isso sozinho, estendi a mão para ela e pedi em silêncio, entendendo, ela segurou a minha, e me acompanhou.
     A mesma velha lápide, gasta pelo tempo, com exceção da foto, que parecia ter sido tirada a apenas algumas horas, aqueles olhos castanhos tão conhecidos me fitaram quando olhei, uma cicatriz de dor, tristeza e angústia se abriu em mim nesse momento. Saquei um cigarro, e só fiquei ali o segurando em quando minha mente dava um giro, por todo um passado, todas as coisas que aconteceram, tudo que me trouxe até aqui. Como tudo chegou a esse ponto?

     - Você ainda vem muito aqui? - me pergunta com uma voz consoladora.
     - Primeira vez, em anos - Era difícil, vir aqui trazia todos meus sentimentos mais fortes e intensos pra fora, e não sabia se a culpa era dela, ou era minha.

     Sabia que não precisava de "porquês", para me explicar, deixei o silêncio pairar, então a vi ajoelhar-se e encarar Anna, com um sorriso que até mesmo iluminavam seus olhos, queria saber o que se passava em sua mente nesse momento. Ela se levantou, incerta sobre o que fazer, posso jurar que a vi olhado para a saída mais próxima, mas ela ficou ali,ao meu lado.
    Me aproximei, me permiti olha-la mais uma vez, aquele sorriso, era incrível como me causava tanta dor e conforto ao mesmo tempo, até esse momento não sabia porque tinha arrancado aquela flor no caminho até aqui, agora fazia sentido. A depositei em frente a lápide, dei meia volta e segui rumo a saída, pude ver os cabelos de Louise voarem em seu rosto, quando o vento soprou, e ela ainda olhava Anna.

     - Porque aqui? - ela me perguntou
     - Porque foi aqui que tudo terminou. Ou começou, não sei ao certo - respondi, mas sem pensar muito sobre a resposta.
     - Depende de quem analisa a situação, - concluiu Louise.

     Acompanhei-a até em casa mais uma vez, parei ao portão e me despedi. Quando já estava a alguns metros, ouvi ela me chamar.

     - Alexander - parei em meio a outro passo - Quer ficar pro jantar? - me perguntou, quase que percebendo que não deveria me deixar sozinho.
     - Eu adoraria - respondi com um meio sorriso.




     Ela entrou e se dirigiu a cozinha, a vi depositar o vidro sobre uma bancada, eu ainda estava ao pé da porta quando ela retornou.

     - Onde está valentina? - perguntei
     - Minha mãe a chamou pra dormir.

     Sentei-me ao sofá, passando as mãos nas pernas, me sentindo um pouco deslocado por estar em sua casa.

     - E suas amigas? Lembro delas não gostarem de mim - perguntei rindo.
     - Cada uma para um lado, ainda nos falamos, mas são raras as ocasiões em que estamos todas juntas.
     - Acho que vi uma delas semana passada. Logo que cheguei aqui. Era loira, com os cabelos ondulados, não vou conseguir lembrar o nome dela, era sempre a mais quieta. - disse me forçando a lembrar.
     - Era a Yara. Ela passou por aqui visitar a mãe dela que não anda muito bem. Saímos uma das noites que ela estava aqui, mas teve que voltar logo, estava cheia de projetos para concluir.
     - Deve ter sido ela, mas acho que não me reconheceu, passou por mim sem dar muita importância.
     - Você não oferece mais perigo algum, então acho que o rosto passa a se tornar meio irrelevante depois de um tempo.
     - Imagino que seja isso, ou ela simplesmente não me reconheceu,não sou mais como era antes.
     - É, acho que o que deixava ela chocada já se foi a algum tempo - ela diz rindo.
     - Nunca entendi direito porque não só ela, mas todas não gostavam de mim.
     - Primeiro, porque me fazia sofrer, segundo porque elas diziam que eu merecia algo melhor, terceiro, porque sempre quando a gente brigava eu acabava indo atrás, quarto porque você era diferente de todo mundo e para elas era só frescura...- ela para pra respirar - posso continuar com isso a noite toda se quiser.
     - Pode continuar então - falo rindo para disfarçar meu desconforto com a resposta dela.
     - Bom, elas realmente concordavam em tudo com minha mãe, e esse discurso você já ouviu milhões de vezes, não vou ficar repetindo.




     - Tudo bem, então, posso começar a cozinhar?... porque eu que vou cozinhar né?
     - Como você notou minha segunda intenção no convite? - ela fica linda sorrindo
     - Previsível, sempre confiou nos meus dotes culinários - me permito ser o mesmo garoto, e rir.
     - E você e essa mania de achar que sabe cozinhar.
     - Não quero falar nada, mas sempre cozinhei melhor que você.
     - Tudo bem,eu admito - é bom vê-la sorrindo assim.
     - Então, o que vai querer?
     - Você decide o prato.
     - A casa é sua, a decisão é sua.
     - Você vai cozinhar, eu sou do básico, você escolhe.
     - Surpresa então.
     - Gera menos conflito - seu riso se torna cada vez mais natural
     - Então vai ser assim, me diga onde é a cozinha e onde está tudo, e sem vir espiar.
     - Posso ficar sentada na bancada? Pelo menos isso? De longe? - ela ri ansiosa 
     - Esse é o acordo ou nada feito.
     - Tudo bem...Pega a direita aqui e vai reto, Ela é aberta, você com certeza vai encontrar. As quatro primeiras portas dos balcões tem condimentos. Talheres nas gavetas, e panelas em baixo do fogão. O resto você mesmo procura.
     - Tudo bem - respondo me encaminhando para a cozinha e pensando no que cozinhar.

     Ao cruzar por um espelho me peguei sorrindo, e só então me dei conta de como me sentia bem, depois de anos longe, pela primeira vez, parecia estar no lugar certo, e isso me fazia sentir que todo o peso que carregava tivesse ficado da porta pra fora.
     Não demorou até a música chegar aos meus ouvidos, me fazendo sorrir ainda mais, estar em casa, acho que essa era a expressão mais próxima do que eu sentia agora, minhas lembranças pareciam tão próximas que acho que poderia toca-las com as mãos, fiquei assim, perdido em memórias por alguns instantes, e então comecei a cozinhar.





     Enquanto cozinhava, me deixei pensar em como tudo era diferente hoje em dia, mas estranhamente familiar, quantas vezes havíamos feito isso antes? Quanto tempo fazia desde a última vez. Lembrei daquela noite, quando o acaso nos aproximou, e em algumas horas ela havia despertado tudo o que havia de bom em mim, uma noite, só uma noite e toda minha vida havia mudado. 

     - Cozinhar! Isso, cozinhar. - Disse para mim mesmo, afastando os pensamentos.




     Por mais que tentasse era difícil afastar da mente os pensamentos, mas me mantive o mais focado possível em cozinhar. Senti ela se aproximar, mas não me desviei das panelas.

     - Posso? - ouvi sua voz atrás de mim, me virei e lá estava ela escorada no batente da porta, com um sorriso sapeca no rosto.
     - Demorou pra aparecer, aprendeu a controlar a curiosidade?
     - Um pouquinho - respondeu brincando com os dedos e demonstrando o quando se segurará para vir até ali.
     - Isso é bom, mas lamento informar, vai continuar curiosa - começo a rir com a cara de frustração que ela faz.
     - Vai, não me tortura assim. Me deixa pelo menos ficar aqui. Eu não atrapalho, vai. - ela sorri pra mim e não consigo dizer não.
     - Tudo bem - digo e reviro os olhos tentando parecer contrariado.

     Ela se senta na bancada em frente ao fogão e fica observando, não com a curiosidade pela que estou fazendo, tem algo a mais em seus olhos, mas não sei dizer o que.

     - Posso pegar o vinho? ela me pede
     - Pode

     Ela pega o vinho e duas taças e os coloca sobre a bancada, vai até a gaveta pegar o abridor, serve duas taças generosas, e se aproxima com uma delas. Quando a pego nossas mãos se tocam, e os olhares se cruzam, e nós ficamos assim, uma corrente elétrica percorre meu corpo, e as palavras demoram a surgir, me afasto e digo por fim

     - Mais um pouco e vai estar pronto, deve estar com fome.
     - Um pouco, mas eu aguento - responde sorrindo um pouco sem jeito, e volta pra bancada.




     Ela ficou sentada na bancada bebendo o vinho, me observando em quanto eu continuava a cozinhar, parei e me voltei para a minha taça, ali parados dessa forma na cozinha era como se eu nunca houvesse partido antes, era estranho pensar nisso. Quando ela se levantou lhe lancei um olhar acusador, ela já havia quebrado nosso acordo.


     - Só vou arrumar a mesa - disse ela se defendendo.

    Ela levou as coisas para a mesa, e voltou a bancada.

    - Quer esperar na mesa, por favor? - Disse indicando a mesa com a cabeça.
    - Não vai nem dar uma pista do que é? - ela me pergunto enquanto eu já balançava a cabeça negativamente - então não demore, ou minha curiosidade vai comer meu estômago - falou sorrindo e se dirigindo a mesa.

    Depois de alguns minutos me dirigi a mesa com uma travessa em mãos, o rosto dela era de pura curiosidade, pousei a travessa sobre a mesa e servi seu prato, e aguardei até que provasse.

     - O que é isso? - Ela me perguntou.
    - Talharim ao molho tártaro. Agora prova - falo rindo

    Ela levou algum tempo antes de falar qualquer coisa.
     
     - Não quer vir cozinhar todos os dias aqui, não? É sério, isso está muito bom.
     - Falei que cozinhava melhor que você - respondo segurando o riso.
     - Cala a boca e come. - Foi o que ela respondeu, no fim das contas ainda era a mesma garota que conheci anos atrás.

    A conversa fluiu muito fácil durante o jantar, era bom poder voltar a ser eu mesmo as vezes.




     Ao terminar a janta ela seguiu rumo a pia com os pratos e eu a segui com a vasilha.

     - Coloca ao lado do fogão - ela me disse já pegando o detergente e a esponja.
     - Você vai lavar a louça?
     - Você fez a janta, eu tinha que fazer algo, não é!? - ela me diz rindo
     - Tudo bem, então eu vou secar - falo buscando a toalha.
     - Não vai mesmo, deixa a toalha ai mesmo.
     - Não mesmo.
     - Vai sim, não quero você fazendo mais nada - disse ela tentando tomar a toalha da minha mão.
     - Para com isso, vou secar a louça - falei rindo
     - Não vai não. - Em meio a minha risada ela arrancou a toalha de minhas mãos.
     - Então já que você insiste, pode ficar com a toalha, eu lavo a louça - Ri ainda mais indo pra pia.
     - Saí dai, por favor - falou ela pouco antes de eu lhe jogar água - Sério? É guerra? - me perguntou apontando pra blusa molhada.
     - Eu já falei que farei isso - disse rindo.
     - Não vai. - deu mais um passo, e eu arremessei um pouco mais de água - É assim? - a desafio com o olhar e ela me bate com a toalha.
     - Isso é golpe baixo.
     - Saí dai e eu paro.
     - Para com isso é sério - olho pra ela tentando parecer sério e ela sorri. A molho mais uma vez, e ela torna a tentar me bater. - Ta bom, já chega! - Seguro o pano que ainda estava no ar.
     - Larga - ela fala rindo, como ela fica linda sendo ela mesma.
     - Não vou largar. - Respondo puxando com mais força.
     - Vai sim, e vai sair dessa cozinha. - falou usando mais força.
     - Se puxar esse pano, vou junto. - Falei enrolando o pano na mão.
     - Larga!
     - Para de teimosia, não vou soltar.
     - Vai sim, larga isso! - falou puxando com mais força.
     - Desiste - me sentia bem com toda essa situação.
     - Tudo bem, você seca a porra da louça, mas não quero te ouvir reclamando depois. - Falou soltando o pano e indo para a pia.
     - Saí dai, sei que ficou fazendo birra como sempre fazia - falei rindo
     - Idiota - falou em um tom quase inaudível.
     - Falou alguma coisa? - pergunto parecendo mau, mas rindo por dentro.
     - Eu disse idiota!
     - Como é, que é!? - Perguntei pegando a taça cheia de água e indo em sua direção.
     - Você não teria coragem!
     - Você tem certeza? - Perguntei, desafiador.
     - Espero que não. - Me disse em um riso contido.
     - Ta vou te dar uma chance e não vou fazer isso.
     - Só porque sabe que eu te faria limpar.
     - Até parece.
     - Ia mesmo, ia fazer limpar o chão e me limpar, que aliás, eu já estou toda molhada por sua culpa.





     Comecei a rir, como sempre, interpretando de outra forma o que ela havia dito.

     - Ta bom, isso não foi legal - Diz começando a rir também.
     - É, isso ficou estranho.
     - Não deveria ter ficado, isso é um jantar entre pessoas civilizadas....
     - Você quem falou, não eu, e você sabe muito bem como eu sou com essas coisas - Ambos rimos disso.
     - É eu sei.
     - Acho que não mudei tanto assim.
     - Espero que não, eu gostava daquela versão.
     - Estranho, incompreendido, autodestrutivo e melancólico? Todos esses atrativos em um cara só são difíceis de achar.
     - Tem razão, procurei por anos, e não achei nenhum sequer parecido
     - Não acredito nisso, eu mesmo me achava insuportável, todas as manias, os problemas...
     - Sempre te fizeram mais perfeito - disse sorrindo sem jeito
     - ...Acho que tenho que ir, está ficando tarde.
     - Fica? - Me pediu, sem pensar nas palavras, simplesmente deixando que saíssem. 
     - Realmente acho que tenho que ir - disse tentando evitar, ser mal entendido.

     Não esperava por esse pedido, não estava preparado pra esse pedido, eram muitas coisas envolvidas na simples escolha de ficar, ela me disse que tudo bem e se ofereceu pra me acompanhar até a porta, virei-me e segui rumo a saída.
     Mais uma vez, a cena se repetia, anos atrás também fora dessa forma, a diferença, é que dessa vez, não houve um toque, um pedido, não sei dizer se queria que ela me pedisse mais uma vez para ficar, ou se simplesmente me deixasse ir, minha mente rodou ao chegar a porta, uma inundação de lembranças, sentimentos e magoas, me assolou, senti meu coração se contrair e se expandir, sabia o que isso significava, medo, puro e simples, só não sabia se era de ficar, ou de ir mais uma vez.
     


     Sem abraços, sem despedidas, somente aquele adeus que não foi proferido, o pedido do olhar.
     Parti rumo a rua e a noite fria, vasculhei os bolsos em busca ao meus cigarros, ouvi a porta se fechar atrás de mim com um som leve, dei uma tragada longa e observei o céu, e deixei minha mente ser levada, pelo dia, e pelo passado, sorri ao fazer isso, um sorriso triste, mas mesmo assim um sorriso.
     Ela havia me dito que sempre soubera sobre mim, mas nunca soube de mim, eram tantas coisas que queria lhe contar, todas as vezes em que fui ao chão, como era cada vez mais difícil me reerguer, como as lembranças que tinha de nós me davam força, todas as vezes que chorei, todas as vezes que não sabia mais onde era meu lugar, todas as vezes que quis voltar, que quis estar perto, todas as vezes que....
     Pego meu cantil, e fico feliz ao sentir o gole amargo descer por minha garganta, era quase reconfortante, um ponto de luz, em meio a toda a confusão que o dia desperta-rá em mim, mas isso não seria o suficiente, mais uma vez queria o torpor, a bebida mais forte que encontrasse, que por algumas horas, me fizesse não sentir mais nada.
   
     Naquela ocasião, mais uma vez aceitei o convite da noite, para me perder, mais uma vez parti, buscando apagar da minha mente todas as coisas que sentia, e queria dizer, tantas vezes isso aconteceu depois. Tantas camas vieram, na tentativa de esquecer aquela, tantos rostos, tantos cheiros, risos, mas nunca pude apagar.
     Quando parti aquela noite, mais uma parte de mim, do garoto que eu era, se perdeu, talvez eu a tenha deixado lá, mas nunca mais voltei para busca-lá, mas sempre me lembrei de tudo, de quem eu era, e de quem ela me fez ser, de como uma noite, podê despertar tudo de melhor que um dia já houve em mim, mas apenas  houve...

     Levei anos, até perceber que aquela noite, havia sido o fim, sem prolongamentos, tudo acabara, naquele dia, no fechar daquela porta. Nunca esqueci aquela noite, ou o passado, nunca mais voltaria a ser o mesmo garoto, e o " e se", que sempre levava comigo, deixou de existir, assim como o garoto sonhador, que eu havia sido um dia.